“O defeito mais grave do homem é a
ingratidão. Fundamento essa qualificação superlativa em que, sendo a substância
do homem sua história, todo comportamento anti-histórico adquire nele um caráter
de suicídio. O ingrato se esquece de que o maior parte daquilo que tem não é
obra sua, mas de outros, que se esforçaram para criá-las e obtê-las. Assim, ao
esquecer-se disso, ele despreza radicalmente a verdadeira condição do que tem”.
Começamos a aula discutindo
o quê é uma TEORIA, e chegamos a algumas conclusões:
ü
Uma teoria é sempre explicativa de um fato/fenômeno;
Uma teoria é sempre explicativa de um fato/fenômeno;
ü Uma
teoria é sistemática,
pois reorganiza o próprio objeto;
ü Uma
teoria necessita de legitimação, precisa de comprovação,
de concordância acadêmica;
ü Uma
teoria emerge da imaginação para superação do real;
ü Uma
teoria é práxis,
embasa a prática e provica uma nova prática.
Após
fecharmos nossa discussão, passamos a apresentação e discussão de alguns textos
que foram explicados através de um mapa conceitual.
O
texto trabalhado por mim, Arian e Ney, era intitulado: “Os “inventores” da educação – E
como nós a aprendemos”, de José
Gimeno Sacristán.
O artigo traz uma
visão geral do “mundo da educação”, através de uma perspectiva que envolva
alguns dos grandes “inventores” da educação do século XX, descobrindo qual
papel desempenharam na estruturação da história pedagógica da educação, e que
compõe o que vivenciamos hoje, entendendo o valor de seu pensamento, de suas
aplicações práticas e das esperanças com as quais estavam comprometidos e que
infundiram em seus estudos; para se ter essa visão macro é necessário nos
colocar em um plano de apreender a educação.
O autor pontua
a diversidade da educação como um traço cultural e como uma forma de entender
como se cria a realidade:
1.)
Enquanto Traço cultural:
ü O mundo da educação é uma construção de
“pedaços” distintos bem sedimentados:
·
O que sabemos
fazer – o domínio das habilidades para desenvolver a prática,
·
O que sabemos que
os outros fazem ou fizeram,
·
O que pensamos
sobre este mundo - os saberes acerca da educação,
·
O que sabemos que
os outros pensaram e deixaram registrado,
·
As intenções –
pretensões, motivações, ilusões, utopias, projetos – que nos levam a buscar
novas realidades.
ü A educação é uma ocupação e preocupação social
– é uma prática compartilhada, e sua compreensão também. Os saberes e
intencionalidades pertencem a muitas pessoas, e seus componentes não são
independentes, pois tudo o que fazemos está amparado em crenças (experiências práticas) e direcionado por
motivos (intencionalidade), todos temos algo a ensinar, possuímos e praticamos
cultura pedagógica, desenvolvemos práticas educativas, conduzimos e orientamos
a outros em vários processos;
ü Não que todos saberes e intenções tenham o
mesmo valor para definir o rumo da educação,
mas somos todos participantes de uma cultura pedagógica.
ü Os professores e especialistas possuem um
saber mais profundo sobre a educação, mas nãos e pode excluir o conhecimento
que os não-profissionais da educação possuem sobre ela e que influenciam tanto
a escola, como o que acontece com a educação fora da escola; educar é dar uma
nova direção cultural, social e comportamental ao ser humano, e todos estamos
envolvidos no processo, somente temos diferentes papéis e influências;
ü As práticas e teorias educativas mais diversas
são resultado de uma diversidade de contribuições internas e externas ao
sistema escolar, de muitas pessoas, de grandes e pequenas “invenções”, de
iniciativas das mais diversas.
2.)
Enquanto forma de entender como se cria a
realidade
ü No decorrer da história, o mecanismo social
seleciona, pontos de vista, práticas e objetivos que direcionam a educação,
alguns irão se sobrepor a outros, predominando e reafirmando-se como a
principal via sobre a qual a nova realidade será construída;
ü Essa “escolha” do que se retém e do que perde,
é influenciada pelo cenário histórico do momento, do próprio diálogo entre as
culturas pedagógicas existentes e pela necessidade de se responder aos desafios
sociais que se apresentam – as propostas mais úteis para suprir necessidades
sociais, consideradas importantes naquele momento, têm mais probabilidades de
se desenvolver e criar raízes;
ü Toda essa cultura pedagógica é desenvolvida
apenas parcialmente no sistema escolar, ela acontece na família, na educação
informal, na educação de adultos etc. – em todos estes âmbitos onde se
desenvolve a “cultura pedagógica” encontramos coerências entre o que se pensa e
o que se faz, bem como incoerências;
E o autor
nós faz refletir com a pergunta - De onde emerge o presente?
E ele mesmo nos
responde dizendo que perdeu-se muito da memória que explica nossa realidade
atual – nos mais diversos segmentos do saber - o que importa hoje é observar o
rumo que imprimiram nesses segmentos, compreendendo o que somos em relação ao
que já aconteceu antes de nós.
Fato é que nem
tudo o que se cria na cultura pedagógica permanece, pois há um processo de
segmentação e de seleção dirigidas e não dirigidas, que definem o que fica e o
que ser perde; daquilo que se perde não conhecemos o valor, e nem podemos
entender o como aquilo que se perdeu faz parte do nosso presente. O que se
conhece são as ideias que foram incorporadas a relatos escritos.
Chegando por
fim ao papel dos “inventores” e
“descobridores” da educação
ü Inventar é imaginar um objeto, uma atividade,
uma organização etc., quer seja realizada na prática ou não;
ü Descobrir é fazer aflorar alguma coisa que era
revelada aos outros e não a nós, é perceber algo que não estava evidente, e
sobre o qual não tínhamos consciência;
ü Na educação inventam-se termos materiais,
práticas, ideias e projetos, invenções estas que dão lugar a um novo
comportamento, gerando novas realidades, mas, o que se mais faz é descobrir,
olhando de outra forma a natureza do aluno, a cultura e o futuro da sociedade;
ü Algumas vezes, se faz novas releituras de
ideias e recursos que funcionam e são conhecidos em outro campo de atividade, e
se transpõe estes para o campo da educação, possibilitando novas formas de ver;
ü Temos que enxergar que a educação pode ser
vista dos parâmetros que a constituem, mas sob um novo prisma - transpor para a
educação ideias de outros campos é a ocupação dos inventores pedagógicos, e
para que este novo olhar perdure temos que transformar teoria em prática,
registrá-lo e instalá-lo na realidade, interpretando suas contribuições a
partir de nossa realidade, de nossas expectativas, perspectivas e
circunstâncias - a teoria não governa diretamente a prática, mas pode
transformar aqueles que as fazem;
ü Narrar um acontecimento não muda o que já
existe, mas o transforma na medida em que transforma quem tem de atuar na
realidade – temos que, converter as teorias e estudos existentes em estímulos
para pensar e trazer à tona questionamentos à nossa realidade, tomando
consciência do compromisso prático que devemos assumir com ela; ou seja,
progredimos interpretando, traduzindo outros, transpondo o que pensaram e
fizeram à nossa situação, às nossas ideias e projetos, ou seja, as teorias nos
fornecem argumentos para nossa própria ação em nossas circunstâncias.
ü Temos que contextualizar o momento histórico
em que se desenvolveram os sistemas educacionais, entender os acontecimentos
daquele momento e as circunstâncias em que estes ocorreram;
ü Um processo em expansão gera uma nova
realidade, e ideias nascidas nestes momentos tem mais oportunidades de
contribuir, intervindo e configurando o que será o mundo; é nesses momentos que
a figura do inventor ou os movimentos sociais ganham mais importância
criadora, propondo ou criticando o que
está acontecendo;
ü No século XX a democracia e a universalização
da escolaridade foram um impulso histórico muito importante para gerar uma nova
realidade. As ideias e ideais dos inventores desta época mostram grandes
alternativas que foram responsáveis por inspirar e impulsionar a educação, a
partir de diferentes modelos;
ü Os acontecimentos difíceis pelos quais o
século passou, fez com que contra-utopias se fortalecessem, momento em que a
educação passa a ser valorizada fundamentalmente como capital humano do
desenvolvimento econômico e meio de ascensão social; não há mais lugar para os
“inventores”, não há mais espaço para as grandes alternativas, pois estas não
são mais favorecidas pela realidade que se impõe;
ü A sociedade atual é produto do conformismo e
limita o poder de imaginar outros modelos pedagógicos, denunciam-se falhas e
insuficiências na educação que temos, mas não se contrapõem a ela alternativas
radicais; esta iniciativa ficou nas mãos do poder público, com suas políticas
educacionais, que não trazem grandes inovações, preferindo a acomodação às
demandas de educação de qualidade determinadas pelos consumidores;
ü Mas, a sociedade continua evoluindo e o
sistema escolar é constantemente sacudido por novas demandas de transformação,
nossa responsabilidade fundamental é avançar como reformadores anônimos,
construindo uma prática que devemos inventar, e que seja dinâmica e libertadora
dentro dos sistemas educacionais.
O
texto é fantástico, e me fez refletir muito sobre a cultura pedagógica, a
prática pedagógica, o momento vivenciado por nós na sociedade atual, os
conceitos perdidos, o reconhecimento dos saberes, a influência das ideologias,
a busca por soluções...
Abaixo
coloco os dois Mapas Conceituais que
construímos com base em nossas reflexões:
Ao
final da aula a professora pediu que pesquisássemos sobre o que é a
Pós-modernidade e sobre as Teorias de Currículo, que serão os tópicos a serem
discutidos na próxima semana.
Ótimo material, bem elaborado e organizado, com questões permeando as reflexões. Muito bom!
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