“Eu quero desaprender para aprender de novo.
Raspar as tintas com que me pintaram. Desencaixotar emoções, recuperar
sentidos.”
Rubem Alves
Na
aula de hoje a professora levantou uma discussão sobre as Teorias de Currículo: Tradicional, Crítica e
Pós-crítica, sobre Currículo, Currículo Oculto. Segue um resumo do que li a
respeito e aprendi com a discussão em sala de aula.
A teoria de currículo denominada Teoria Tradicional teve
origem nos Estados Unidos, e é baseada nos princípios de Taylor, que igualava o
sistema educacional ao modelo organizacional das empresas. Tem como objetivo principal
preparar para aquisição de habilidades intelectuais através de práticas de
memorização, o currículo é visto como uma instrução
mecânica, uma listagem de conteúdos que
devem ser ensinados pelo professor e decorados pelos estudantes. A elaboração
do currículo é tão somente uma atividade burocrática, desprovida de sentido e
fundamentada na concepção de que o ensino está centrado na figura do professor,
que transmite conhecimentos específicos aos alunos, que se tornam simplesmente repetidores dos conteúdos
abordados.
As teorias
curriculares críticas são baseadas nas concepções marxistas (década de 60),
e argumentam que não existe uma teoria neutra, já que toda
teoria está baseada nas relações de poder. Compreendem que tanto a escola
como a educação em si são instrumentos de reprodução e legitimação das
desigualdades sociais da sociedade capitalista (relações de poder). Isso
está implícito nas disciplinas e conteúdos que reproduzem a desigualdade social que fazem com que muitos alunos saiam da escola antes mesmo
de aprender as habilidades das classes dominantes e percebem o currículo como
um espaço de luta cultural e social.
Dessa forma, a função do currículo, mais do
que um conjunto de matérias, seria também a de conter uma estrutura crítica que
permitisse uma nova perspectiva em favor população mais desprovida. As práticas
curriculares, nesse sentido, eram vistas como um espaço de defesa das lutas no
campo cultural e social.
As Teorias Pós-críticas surgiram dos princípios do pós-estruturalismo e dos ideais multiculturais (décadas de 1970 e 1980), movimento ambíguo de adaptação e resistência - nessa perspectiva o currículo
é tido como algo que produz uma relação de gêneros, pois predomina a cultura
patriarcal. Essa teoria, assim como a
Teoria Crítica, criticou as Teorias Tradicionais, mas além da questão das
classes sociais, elevou sua discussão ao sujeito, o indivíduo. Desse modo, mais
do que a realidade social dos indivíduos, era preciso compreender fatores como:
raça, gênero, orientação sexual, entre
outros. As teorias pós-críticas
consideram que o currículo tradicional faz prevalecer os preconceitos sociais
pré-existentes , e que nesse sentido é preciso combater à opressão a grupos
marginalizados e lutar para incluí-los socialmente, ou seja, a função do
currículo é a de se adaptar ao contexto dos estudantes para que o aluno
compreenda nos costumes e práticas do outro uma relação de diversidade e respeito.
Por sua visão baseada em um conceito pós-estruturalista, o currículo passou a
considerar que não existe um conhecimento único e verdadeiro, sendo esse uma
questão de perspectiva histórica, ou seja, que se transforma nos diferentes
tempos e lugares, temos o currículo como discurso do sujeito...
Comparando as Teorias,
observamos que as
teorias tradicionais são teorias neutras e desinteressadas, já as teorias
críticas e pós-críticas, afirmam que nenhuma teoria é neutra ou desinteressada,
mas que toda teoria é uma relação de poder.
As
teorias tradicionais, ao
aceitar conhecimentos e saberes
dominantes, se concentram em questões técnicas e de organização, ou seja, uma
vez que temos esse conhecimento (dominante/óbvio/inquestionável) a ser
transmitido, COMO devemos transmiti-lo?
As
teorias críticas e pós-críticas,
estão preocupadas com as conexões entre saber, identidade e poder, e por isso
permeiam sua questão central, não “no quê” ensinar, mas “no porquê” ensinar
este e não aquele conteúdo...? Quais são os interesses para que este conhecimento
esteja no currículo...? Por que
este tipo de identidade ou subjetividade
e não outro...?
Teorias Tradicionais
|
Teorias Críticas
|
Teorias Pós-críticas
|
ensino
|
Ideologia
|
identidade,
alteridade, diferença
|
aprendizagem
|
reprodução
cultural e social
|
subjetividade
|
avaliação
|
Poder
|
significação
e discurso
|
metodologia
|
classe
social
|
saber-poder
|
didática
|
Capitalismo
|
representação
|
organização
|
relações
sociais de produção
|
cultura
|
planejamento
|
Conscientização
|
gênero,
raça, etnia, sexualidade
|
eficiência
|
emancipação
e libertação
|
multiculturalismo
|
objetivos
|
currículo
oculto/ resistência
|
|
Na reflexão sobre o assunto
surgem alguns pontos que ficam no pensamento:
ü
O que fazer quando há uma fragmentação das
relações sociais?
ü
O que fazer quando há uma relativização dos
conhecimentos sem sistematização? Até onde isso é bom ou ruim?
ü
Essa primazia da indeterminação para capturar o
real... Como fazer se não há real para se fazer a crítica?
ü
A teoria pós-crítica é suficiente ou
insuficiente para ser transformadora de
realidades...?
ü
É emancipatória ou reacionária...?
São questionamentos que podem ainda não apresentar uma resposta pronta,
e que talvez só o tempo nos permitirá saber...
Considerações sobre Currículo, sobre Atos
do Currículos...
O currículo
é uma tradição inventada, como artefato socioeducacioal que se configura nas
ações de conceber, selecionar, produzir, organizar, institucionalizar,
implementar, dinamizar saberes, conhecimentos, atividades, competências e
valores, visando uma dada formação.
Indica caminhos, travessias e chegadas, como um
movimento de possibilidades, carregando elementos de conservação – planejamento, as disciplinas
– e de transgressão – quando se faz algo novo..
Os Atos de Currículo são as atitudes
concretas (tudo o que se faz, todas as atividades) que se atualizam em termos
de currículo; são formas ideológicas e
de resistência, veiculando uma formação ética, política, estética e cultural...
Nem sempre explícitas e nem sempre coerentes, são permeadas de ambivalências, contradições,
paradoxos... Nem sempre absolutas, são cheias de transgressões... Nem sempre
sólidas, possuem inúmeras brechas e fissuras...
Podemos dizer que é onde realmente a aprendizagem
ocorre, pois essa “costura curricular” - os atos de currículo - ultrapassam o
currículo prescrito, pois devido a seu caráter dinâmico e complexo está sempre
de reatualizando pelos momentos de resignificação de sentidos condensados,
desdobrados, redefinidos, transpostos....
Se configuram como produto de relações e de dinâmicas
interativas, cultivando uma ética e uma política ao fazer e realizar opções
epistemológicas pedagógicas, estando presentes nas políticas de sentido do
currículo que emanam das práticas e do cotidiano escolar.
Podemos concluir que o Currículo e os Atos
do Currículo, desenham um caminho, alavancado pela educação, e nós somos
resultados desse caminho trilhado...
Como Currículo e Avaliação tem uma relação muito
estreita, cabe aqui fazermos algumas considerações sobre Avaliação da
Aprendizagem.
Avaliação da Aprendizagem... Afinal... O que
é?
Um percurso
O Ser-professor é um aprendizado, que exige
competências específicas – profissionalidade, e a construção de uma identidade
– a professoralidade. Para se construir como um Ser-professor é necessário
tomar consciência de seu próprio processo formativo, tecendo uma rede de
interações, re-avaliando sua prática docente continuamente...
Como disse Paulo Freire: “ A prática de se pensar a
prática é a única maneira de se pensar certo.”
Um questionamento - Se o mundo não é
mais o mesmo, se os alunos não são mais os mesmos, como fazer educação do mesmo
modo? (Adaptado Cortella).
Tradicional
|
Progressista
|
Educação é transmissão, memorização de
informações.
|
Educação é desenvolvimento motor,
afetivo, cognitivo e social.
|
Aluno é um ser receptivo, passivo.
|
Aluno é um ser dinâmico, construtor do
conhecimento.
|
Avaliação deve medir quantidade de
informações retidas, é a averiguação do que foi memorizado, não aprendido.
|
Avaliação possui um sentido orientador,
de ponto de partida para repensar e replanejar as atividades.
|
Se devemos sempre re-pensar nossa prática docente,
vamos re-pensar a avaliação, assumindo-a como um processo de ação – reflexão –
ação, uma maneira de construir uma postura pedagógica na Educação.
A Avaliação pretende avaliar a Aprendizagem... Mas
afinal... O que é a Aprendizagem? É um processo de construção, dinâmico, individual
e intransferível, que possui elementos motores, cognitivos, afetivos,
evidenciado por meio de conteúdos factuais, procedimentos atitudinais e de
conceitos.
Portanto, a Avaliação possui uma Dimensão Formativa:
Afinal... Avalia-se para quê?
ü Conhecer
o aluno nos variados tempos e espaços de aprendizagem;
ü Identificar
seus conhecimentos prévios e seus avanços, bem como a construção de sua lógica
epistemológica;
ü Para
verificar se houve aprendizado e se os procedimento de ensino estão sendo
eficientes.
Pesquisas sobre Avaliação concluem que:
ü Os
estudos são pautados somente nos tópicos que “poderão” ser cobrados na prova,
deixando o restante do conteúdo de lado;
ü Há
a valorização das avaliações que remetem a uma nota quantificada;
ü Provas
e exames não garantem ao aluno o domínio do conhecimento;
ü Há
exigência mais de memorização do que de habilidades intelectuais superiores;
ü As
provas alimentam a cultura da cola.
Enfim, o temos hoje, é um Ciclo Docente de Atuação
que se limita a:
A professora finalizou a aula, dando-me muito no que
pensar e re-pensar minha atuação docente, foi fabuloso! Melhor, está sendo
fabuloso...!!!!
Para próxima aula, a professora nos enviará alguns artigos
sobre Currículo. Ela nos separou em dupla, e cada dupla deverá ler um artigo
para compartilhar e discutir na próxima aula, para que possamos continuar nosso
percurso de re-construção docente...
Fabuloso é participar deste exercício reflexivo que você faz aula a aula. Seu material aqui postado traz quadros e esquemas bem elaborados, pensamentos em ebulição e questionamentos que nos instigam....Parabéns pela qualidade de seu percurso como aprendiz de si-professora!
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