“É preciso
dialogar com nosso não saber...”
Mailsa Carla Passos e Carlos Roberto de Carvalho
Na
aula de hoje foram apresentadas as leituras dos textos do livro “Escola, Currículo e Avaliação” da
Maria Tereza Esteban. Cada um de nós leu um texto do livro
e hoje os apresentamos para discussão com nossos colegas e professora.
A
apresentação seguiu a seguinte ordem:
ü Capítulo 1 - “Ser professora: avaliar e ser avaliada.” –
Maria Auxiliadora
ü Capítulo 2 - “Avaliar a escola e a gestão escolar:
elementos para uma reflexão crítica.” – Letícia
ü Capítulo 3 – “Fundamentos, dilemas e
desafios da avaliação na organização curricular por ciclos de formação.” – Michele
e Priscila
ü Capítulo 4 – “Templos construídos
sobre templos: a história da América Latina e o cotidiano da escola.” – Giovana
ü Capítulo 5 – “Conversas sobre
avaliação e comunicação.” – Úrsula
ü Capítulo 6 – “Escola, currículo e
avaliação.” – Arian
ü Capítulo 7 – “As afluências de um rio
chamado avaliação escolar.” – Ney
ü Capítulo 8– “Avaliar o processo de
aquisição da escrita: desafios para uma professora pesquisadora.” – Carlos
e Jaqueline
Em
relação aos capítulos apresentados por meus colegas, fiz poucas anotações, uma
vez que suas considerações estão publicadas em seus respectivos blogs e posso
as ler com mais calma posteriormente, então me ative em escutar e participar da
discussão para poder pegar considerações que pudessem ser agregadas a meu
texto.
Entre
as anotações que fiz estão as seguintes:
ü A avaliação classificatória distância a
relação dos sujeitos aluno e professor, uma vez que “barra” qualquer tipo de
mudança na prática educativa;
ü A avaliação institucional tem caráter
regulatório e não emancipatório, há a questão do tempo, de regras, de
formalização → funções meramente burocráticas. Mas e as funções de socialização,
onde ficam? Onde se encontram?
ü Essa avaliação da instituição é cruel
e se sobrepõe ao currículo, pois caracteriza jogos de pode, gestão empresarial,
educação como uma forma de comércio, num processo regulador e classificatório.
Em
relação ao capítulo 4 “Templos construídos sobre templos: a história da América
Latina e o cotidiano da escola”, de Mailsa Carla Passos e Carlos Roberto de
Carvalho, os autores começam pontuando que a disputa entre culturas diferentes
leva grandes culturas a serem apagadas para que novas nações surjam, e seguem
descrevendo que o “apagamento” das diferenças se dá através de diferentes
mecanismos de produção de uma “pseudo-pacífica” universalidade, que vão desde
guerras bélicas à guerras de simbologia, ou seja a legitimação de uma cultura
sobre outra...
Eles continuam
colocando que há casos na história das relações entre culturas e nas disputas
de poder, de deslizes e acasos que perpetuam a multiplicidade que se tenta
apagar, e exemplifica com um fato histórico (que pode ser “repetido” em outro
local), ocorrido em Cholula, no México, entre os Olmecas (irmãos dos Astecas) e
os espanhóis, descrevendo o diálogo entre as duas culturas - ameríndios e
brancos.
Os
autores descrevem que as duas culturas se articularam de tal maneira que seu
caso é ilustrativo de como as “trocas culturais” aconteceram, traduzindo
culturas, entrecruzando suas práticas, crenças e maneiras de estar no mundo.
Cholula
foi destruído por Cortez, um espanhol, que a transformou em seu “forte”,
utilizando o Tempo da cidade como lugar de uma luta simbólica (tentativa de
apagar a cultura do dominado). Destruiu os templos existentes no local e mandou
erguer outros, para impor a fé cristã, mas não percebeu que o maior Templo
estava escondido embaixo da vegetação espessa, permitindo perpetuar a cultura
local – em sua ignorância, não percebeu o Templo, construindo a Igreja de Nossa
Senhora dos Remédios sobre a Pirâmide de Tepanapa, o maior Templo dos Olmecas.
Podemos dizer que o “vencedor” não viu a cultura do “vencido”, até mesmo porque
a desconhecia..
Ao
confundir a cultura com a natureza, o “vencedor” equivoca-se “no olhar para o
outro” e faz ao acaso perpetuar a outra cultura e os símbolos que ele pensava
ter subjugado...
Este
mesmo princípio de equivocar-se ao olhar para o outro, ocorre em outros
contextos culturais... Esteriótipos são criados, atribuindo erroneamente como
característica natural do sujeito aquilo que talvez faça parte de sua cultura.
Na cultura alheia, aquilo que escapa a nossa grade de compreensão atribuímos à
natureza, à selvageria, à barbárie. Por exemplo: os índios são preguiçosos, os
negroas são sexuais, os camponeses são rudes, os mulçumanos são cruéis etc.
Devemos
suscitar uma reflexão sobre os acontecimentos passados e, a partir deles
verificar como se pode rever-pensar o que ainda permanece ou encontra-se
adormecido dentro de nós desse tipo de comportamento, é fundamental articular
essa questão no meio educacional, a questão da transmissão cultural (a
comunidade), do currículo (a subjetividade) e das formas de avaliação
(classificatória/emancipatória).
Essa
articulação nos ajuda a repensar a partir de uma lógica de estranhamento, de uma
maneira de olhar que transforma coisas aparentemente díspares em semelhantes, habituais
em extraordinárias e vice-versa,
permite-nos dialogar com nosso não saber... enfrentar nossa ignorância diante
do outro...
Devemos
procurar escapar do senso comum, das certezas das afirmações e juízos pré-concebidos,
penetrar no mundo surdo das palavras, escapando desse diálogo de surdos...
Lembrar o passado como um fato de memória que inicia o processo cultura e
desencadeia re-ações... Ver detalhes significativos e subjetivos,
viver/reviver/ver o todo... Vivenciar essa memória afetiva que nos afeta
enquanto seu valor e símbolo, afinal esquecimento e lembranças são modos
operativos/seletivos da memória social/histórica dar sentidos às nossas práticas cotidianas
(ideia de permanência, de continuidade), são processos que estão na gênese das
nossas ações.
O
homem é um ser que raciocina e que registra a experiência vivida (memórias),
por isso os processos de dominação se estabelecem, a partir da tentativa de
apagar a memória do outro, suas culturas, suas símbolos. No Brasil, podemos citar como exemplo a queima
dos documentos históricos que narravam a escravidão no Brasil (fato levado a
cabo por nosso então ministro Rui Barbosa), na tentativa de “apagar” da
história brasileira a existência de tal procedimento, por outro lado temos o
livro “ O Cortiço” que retrata de modo tão real a relação entre o homem branco
e a mulher negra no final do século...
Cholula/Cortiço
são metáforas que exprimem o dramático encontro entre América e Europa, fazendo
com que compreendamos além das palavras e das imagens, indicam uma ruptura,
provocam um deslocamento de sentidos, só podemos nos apavorar ou deliciar-nos
dela...
É uma
metáfora - não posso afirmar se está certa ou errada, se confirma ou não a
situação... - da carnificina, da conquista, da escravidão, do conflito
inter-cultural, da esperançai e da redenção, nem tudo sucumbe, morre, há algo
que sempre resiste.
Não é
difícil aproximar esta visão da discussão sobre práticas pedagógicas
(coletividade – Texto 1), currículos (subjetividade – Texto 2), avaliação
(classificatória/emancipatória – Texto 3). A escola está contaminada pelos
estudos culturais e pelas concepções culturalistas de educação.
Existem
tentativas isoladas de transformar a escola em um local democrático, no
entanto, na educação formal os saberes são invisibilizados em detrimento de
outros, e é nesse “apagamento” que encontramos pontos de convergência entre o
narrado no texto e os processos formais de transmissão cultural.
Há um
conflito entre o senso comum (considerado como um falso conhecimento) e a
Ciência (considerada o conhecimento verdadeiro), há uma hierarquização de saberes,
que nos leva a pensar: Mas porque estes e não aqueles?
Qual
a ideologia por trás dessas construção?
Porque
há um conhecimento universal que se sobrepõe ao conhecimento local?
Porque
não aproximar as duas formas de conhecimento transformando suas “oposições” em
um permanente diálogo entre verdades e realidades, levando em consideração um
sujeito universal, múltiplo e complexo?
Porque
não observar os múltiplos saberes que habitam o espaço-escolar?
Temos
que nos conscientizar de que é totalmente necessário somar os conhecimentos
construídos a partir de currículos não-oficiais, pois como tão bem disse Paulo
Freire, a voz do outro sempre dará um jeito de ser ouvida.
Nesta
aula foi possível a apresentação e discussão dos capítulos de número 1 a 5, os
demais ficaram para ser apresentados e discutidos na próxima semana. Também
devemos assistir o filme “Preciosa”e fazer os comentários.
Mais
uma vez a aula me proporcionou inúmeros retalhos para adicionar a minha
colcha... Valeu professora!
Gostei do resumo da aula. :)
ResponderExcluir